Trecho retirado do livro “Strategy for the Liberation of Palestine”, publicado em 1969 pela Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP).
Disponível originalmente no site PFLP Documents.
Tradução por Élton Zobisch.
Fonte: Traduagindo
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Uma das condições básicas para o sucesso é uma perspectiva clara das coisas: uma perspectiva clara do inimigo e uma perspectiva clara das forças revolucionárias. É sob essa luz que a estratégia da luta é determinada e, sem essa perspectiva, a ação nacional se torna uma aposta impetuosa que logo terminará em fracasso. Portanto, após décadas de luta e sacrifício, se tornou imperativo que o povo Palestino se assegure de que sua luta armada dessa vez tenha as condições requeridas para o sucesso. Nosso povo tem travado uma luta longa contra o Sionismo e os planos colonialistas. Desde 1917 (Declaração Balfour), o nosso povo tem lutado para manter seu solo, para obter liberdade, para liberar seu país de colonialistas, para afirmar seu direito de autodeterminação e para explorar os recursos de seu país para benefício próprio. Sua luta contra o Sionismo e colonialismo assumiu toda forma e método. Em 1936, nosso povo pegou em armas em defesa de sua terra, de suas casas, de sua liberdade e do direito de construir seu futuro, sacrificando milhares de mártires e suportando toda forma de sacrifício. Durante esse período da história, a luta armada do nosso povo criou um estado de consciência coletiva não menor que esse em que nossas massas hoje se reúnem em torno de ações de comando. No entanto, apesar de todos os sacrifícios da longa fila de mártires cujo número excedeu aquele dos hoje mártires em ação de comando, apesar do levante de armas e do entusiasmo das massas, nosso povo, até o dia de hoje, não triunfou. A maior parte dele ainda vive nas condições miseráveis dos campos e sob o jugo da ocupação. Consequentemente, para nos assegurar do sucesso da luta, não é suficiente que peguemos em armas. Algumas revoluções armadas na história acabaram em vitória, mas outras acabaram em fracasso. É incumbente que encaremos os fatos com uma mentalidade franca, corajosa e cientificamente revolucionária. Uma perspectiva clara das coisas e das verdadeiras forças que atuam na luta leva ao sucesso, enquanto impetuosidade e espontaneidade levam ao fracasso.
Isso mostra claramente a importância do pensamento político científico que guia a revolução e planeja sua estratégia. Pensamento político revolucionário não é uma ideia abstrata suspensa no vácuo, ou uma luxúria mental, ou um hobby intelectual para os que foram educados, o que nós podemos, caso queiramos, deixar de lado como uma luxúria desnecessária. Pensamento revolucionário científico é a clareza de pensamento por meio da qual as massas são capazes que entender o inimigo, seus pontos fracos ou fortes, e as forças que suportam ou se aliam ao inimigo. Da mesma forma, as massas devem entender suas próprias forças, as forças da revolução, como se mobilizar, como superar os pontos fortes do inimigo e se aproveitar de suas fraquezas, e sob qual organização, mobilização e programas militares e políticos elas podem escalar suas forças até que massacrem o inimigo e alcancem a vitória.
É esse pensamento político revolucionário que explica para as massas do nosso povo as razões de sua derrota até agora no confronto contra o inimigo: por que sua revolta armada de 1936 e suas tentativas antes de 1936 falharam, o que levou à derrota de 1967, a verdade sobre a aliança hostil contra a qual elas travam guerra, e com qual contra-aliança elas podem encará-la, e por qual método. Tudo isso deve ser colocado em linguagem clara a qual as massas podem entender. Por meio desse entendimento elas alcançam uma perspectiva clara da batalha e suas dimensões, forças e armas, de modo que seu pensamento emerja como uma força em torno do qual as massas estão unidas com perspectiva de batalha e estratégia únicas.
Para nós, pensamento político significa uma visão clara da batalha a nossa frente, e é por isso que nos enfatizamos a importância e a seriedade desse assunto. O que significa lutar sem pensamento político? Significa lutar de uma maneira que falta em planejamento, cair em erros sem perceber quão sérios eles são ou como lidar com eles, improvisar posições políticas não baseadas numa visão clara. Quando as posições políticas são improvisadas há, normalmente, uma multiplicidade de posições, o que significa forças dispersas, resultando nas forças revolucionárias do nosso povo dispersas ao longo de várias direções em vez de todas convergindo em uma única direção enquanto força sólida.
Nós queremos alertar acerca do perigo de não se levar a sério esse assunto. Há, entre nossos combatentes e nossas bases, a vertente que confunde pensamento político revolucionário com deboche político, representada por certas “forças políticas” e certos “líderes políticos”. Essa vertente confunde pensamento político revolucionário com métodos políticos ultrapassados usados pelo movimento nacional Palestino antes da estratégia de luta armada. Além disso, essa vertente confunde pensamento político com a complicada sofisticação de certos intelectuais quando esses discutem assuntos pertinentes à revolução. Portanto, a vertente em questão tentar desdenhar ou diminuir o pensamento político, de modo que é necessário que executemos uma operação corretiva radical. É pensamento político revolucionário que expõe “deboche político”, fortalece nossa convicção na luta armada e revela perante o público a sofisticação estúpida que complica os problemas da revolução em vez de servir sua causa.
Para exercer esse papel revolucionário, o pensamento político deve (1) ser científico (2) ser claro o suficiente para alcançar as massas e (3) ir além dos aspectos gerais e penetrar tão profundamente quanto possível na estratégia e tática de batalha para guiar os combatentes em como encarar seus problemas. Quando o pensamento revolucionário cumpre esses requerimentos, ele se torna a arma mais efetiva na mão das massas, permitindo que consolidem suas forças e tenham uma visão perfeitamente clara da batalha com todas as forças em ação, assim como da posição de cada uma dessas forças desde o começo da revolução até seu fim conclusivo.
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